“Não há fórmula pronta para o controle do Haemonchus contortus”. Assim resume o palestrante, O professor da Universidade Federal do Paraná, Marcelo Molento, no curso promovido pela Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), para técnicos da Emater, estudantes de medicina veterinária e interessados, nos dias 9 e 10 de maio.
Segundo Molento, a combinação de estratégias, manejo, adequação ao clima e às peculiaridades de cada propriedade é o que se recomenda para combater a resistência parasitária e controlar os parasitas no rebanho ovino.
O Haemonchus contortus é um nematoide gastrintestinal que pode provocar um grave quadro de anemia nos animais infectados. No entanto, em um rebanho, a maioria dos animais apresenta baixo grau de infecção, estando comprometidos somente 20% dos animais. Muitos produtores visando controlar a ação desse parasita lançam mão do uso equivocado e excessivo de antiparasitários em seu plantel.
O efeito, no entanto, é o contrário. Ao invés de tratar e salvar os animais, o mau uso provoca o surgimento de parasitas mais resistentes a vários grupos químicos.
Pesquisas alertam que esse uso indiscriminado de medicamentos anti-helmínticos acarreta a redução da eficácia dos produtos, podendo esgotar em poucos anos os princípios ativos que são a base para os produtos encontrados no mercado.
Famacha
O método Famacha foi trazido para o Brasil pelo prof. Marcelo Molento há 12 anos com o objetivo de reduzir a utilização de anti-helmínticos. O método teve a eficácia comprovada em propriedades na África do Sul e se resume em avaliar a coloração da conjuntiva ocular do ovino, utilizando como base de comparação o guia ilustrativo do cartão de Famacha. De acordo com a cor verificada, é possível avaliar o grau (de 1 a 5) de anemia do animal, permitindo identificar os animais que precisam ou não receber tratamento anti-helmíntico.
Realizar o exame é simples, conforme ensinado aos extensionistas da Emater do Rio Grande do Sul. Porém requer algum treino para segurar o animal, abrir corretamente o olho para ver a conjuntiva e classificar corretamente o grau de anemia. Com base nesse exame clínico, deverão ser tratados somente os animais que apresentam anemia devido à verminose com graus Famacha 3, 4 e 5.
Os animais que apresentam graus 1 e 2 não precisam e não devem receber medicamento. Dessa forma, realiza-se o tratamento antiparasitário seletivo, no lugar do tratamento profilático e generalizado no rebanho.
O teste
Um examinador experiente em utilizar o Método Famacha consegue avaliar até 250 animais em 1 hora de trabalho. Segundo orienta o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul da área de Sanidade Animal, Alessandro Minho, esta avaliação do plantel mantido em regime extensivo deve ser feita periodicamente, no período chuvoso, momento em que as pastagens estão mais contaminadas.
No período seco, quando ocorre menor risco de infecção, recomenda-se que o exame do Famacha seja feito mensalemente. Já para os animais mantidos em pastagens irrigadas ou em regiões com muita chuva (acima de 1.500 ml/ano), recomenda-se que o exame seja feito com intervalos menores.
“Para evitar a resistência parasitária, o menos é o melhor”, finaliza o pesquisador Alessandro Minho. Ou seja, quanto menos tratamentos com anti-helmínticos realizados ao longo do ano, melhor será para evitar a resistência parasitária. Desta forma, o Método Famacha entra em ação como um forte aliado para manter a eficácia das drogas, bem como a sustentabilidade da produção agropecuária.