O criador João Augusto Botelho do Nascimento, de 41 anos, é um dos expoentes da criação de Suffolk no Brasil. Diretor técnico da ABCOS e proprietário da Fazenda Descanso, em São Martinho da Serra (RS), esse paulistano de nascimento e gaúcho de coração, trabalha forte com um dos melhores rebanhos da raça no Brasil e projeta um excelente desenvolvimento do Suffolk no Brasil. Acompanhe a entrevista!
Nome: João Augusto Botelho do Nascimento
Idade: 41 anos
Local de nascimento: São Paulo (SP)
Local onde vive: Santa Maria (RS)
Formação: Medicina Veterinária (UFSM)
Quais raças cria?
Sou gaúcho por adoção, apaixonado pela ovinocultura e pelo Suffolk. A gente não escolhe onde nasce, mas escolhe onde vive. Vivo em Santa Maria e São Martinho da Serra, no Rio Grande do Sul, onde está localizada a Fazenda Descanso. Desde 1992 crio Suffolk, mas animais puros a partir de 1997 e desde então estamos aprimorando a seleção da raça na cabanha. Em 2002, começamos a selecionar a raça Texel e desde 2010 estamos trabalhando carneiros Texel puros, de linhagem inglesa. Assim como no Suffolk acredito que o Reino Unido tem as melhores linhagens para produção de carne de cordeiro.
Quais são as principais características que você destaca no Suffolk?
Eu destaco a precocidade e a abundante produção de carne. A raça é utilizada nos cruzamentos terminais para produção de carne. Após a importação em 2010 dos primeiros lotes de sêmen inglês, o que deu um novo rumo a raça Suffolk no Brasil, temos animais ainda mais precoces, rústicos, extremamente carniceiros, apresentando lombo, pernil, paleta exuberantes, ou seja, excelente musculatura nos cortes nobres do ovino.
Na sua opinião, quais raças formam o melhor cruzamento com o Suffolk?
O Suffolk permite fazer vários cruzamentos visando a produção de carne. O Suffolk complementa qualquer outra raça para cruzamentos de produção de carne. Logicamente, Texel, Ille de France, Dorper, Hampshiredown são as melhores raças para produção de cordeiros mais pesados e de melhor qualidade. No entanto, no nordeste o Suffolk vem sendo utilizado em cruzamentos com a raça Santa Inês, produzindo excelentes cordeiros para abate. No Sul, há uma predominância da raça Corredale e o cruzamento com o Suffolk tem produzido carcaças belíssimas, com excelente capa de gordura e marmoreio impecável.
Quais as perspectivas para o Suffolk nos próximos anos?
Há uma ótima perspectiva. Nós estamos fixando o Suffolk Brasil no âmbito nacional, que tem apresentado ótimos resultados. Nossos clientes da Cabanha e de outras propriedades associadas da ABCOS tem sentido aumentar a procura de reprodutores e matrizes. Temos observado novos criadores da raça, principalmente, nos últimos quatro anos. Estamos analisando novas importações de sêmen inglês e também da Espanha, visando sempre o novo biotipo do Suffolk Brasil, adaptado ao clima brasileiro.
A busca por cruza Suffolk vem crescendo muito e há uma tendência, que os cordeiros fruto dessa cruza Suffolk, esteja cada vez mais nos restaurante de alta gastronomia, no centro do País, que são aqueles que mais bem remuneram o produtor e que exigem um cordeiro de qualidade superior. Aqui no Rio Grande do Sul, boa parte da produção está sendo enviada para o Paraná e São Paulo para que sejam encaminhados ao consumidor final mais exigente, que deseja uma carde de altíssima qualidade.
O que pode ser aprimorado no desenvolvimento do Suffolk?
Estive em outubro passado na Inglaterra, visitando diversas cabanhas e vi a fina flor da raça Suffolk. O que é o verdadeiro Suffolk e pude aprender mais sobre a seleção do Suffolk. Precisamos continuar uma seleção séria. Observar a musculatura no pernil, principalmente na região interna do pernil, animais com cabeças triangulares para que nasçam sem trancar, selecionar melhor as matrizes, ovelhas que saibam criar seus cordeiros, que tenha aptidão materna, que é transmissível geneticamente. Essas características reprodutivas: nascer fácil, produzir carne e ser uma mãe que produza muito leite e crie bem seus cordeiros devem ser cada vez mais selecionados.
Qual importância das feiras e seus julgamentos para o Suffolk?
Os julgamentos em feiras e exposições são muito importantes porque norteiam o biotipo da raça, as diretrizes da raça, sobretudo pra quem observa o cruzamento para abate. O animal selecionado em pista precisa ser aquele que vai andar a campo na produção de carne. Nossa seleção de pista não pode ser diferente do nosso objetivo final, que é a exuberante produção de carne. Lógico, devemos preservar a pureza racial, porque somos os mantenedores da elite do Suffolk, mas precisamos buscar um animal em pista, cada vez mais próximo ao nosso objetivo, que é produzir cordeiros de altíssima qualidade. É essa carne que chegará na mesa do consumidor, que é, de fato, quem paga a conta de toda a cadeia produtiva do cordeiro.
Não podemos esquecer também de fomentar a importância do cruzamento do Suffolk com outras raças, sobretudo o ganho de peso, aproveitamento de carcaça, a qualidade da carne. Projetos de ovinocultura são tão importantes quanto as feiras e exposições.
O que a ABCOS pode fazer para contribuir ainda mais para o fortalecimento do Suffolk?
A ABCOS vem com um excelente trabalho há muito anos. Estamos implantando e afirmado o Suffolk Brasil, que está solidificado, os produtores entenderam e querem esse novo biotipo. Temos que focar no fomento de projetos que utilizem o cruzamento do Suffolk para cordeiros de abete. Quanto mais cruza Suffolk mais reprodutores e matrizes serão produzidas. A inserção maciça do Suffolk nos rebanhos de corte é o que precisa ser feito neste momento.
Como você vê a atual situação da ovinocultura no Brasil?
A ovinocultura nacional precisa definir um calendário sanitário, para que possamos auxiliar cada vez mais o produtor final, que é o cordeiro de abate. É preciso ser feito com muita consciência e harmonia entre o Ministério da Agricultura e os produtores. Isso não vem acontecendo porque não há um projeto sanitário bem sucedido, que não seja bem discutido com o produtor. Atualmente, essas discussões estão acontecendo apenas dentro das salas de entidades, entre quatro paredes, fica praticamente inviável de colocar em prática se não escutar a base.
O que é preciso para que a carne de cordeiro ganhe uma fatia maior no mercado de carnes?
A ovinocultura no Brasil vem crescendo, há uma grande demanda de carne de cordeiro, mas há muita importação de carne ovina do Uruguai, Chile e Nova Zelândia. Nesse sentido, é preciso ter proteção comercial do governo, caso contrário a concorrência é muito desleal. Temos uma produção em expansão, tem demanda, precisamos aumentar a produção e fomentar a produção, independente da raça. A nossa grande demanda é o mercado interno e é isso que precisamos focar e, posteriormente, podemos pensar na exportação.
Também é preciso desburocratizar alguns processos para a abertura de frigoríficos, uma rapidez maior dos órgãos governamentais, calendário sanitário nacional e visão governamental dos negócios da carne ovina, que é uma commoditie importante na economia do Brasil.
Estamos em um ano da Nacional do Suffolk. Qual importância de uma Nacional e qual a sua expectativa?
Teremos um jurado inglês competente, experiente, acostumado com pistas da Inglaterra e da Europa. Mais uma vez mostraremos o novo biotipo do Suffolk. Acredito que teremos o melhor julgamento de todos os tempos do Suffolk. A exemplo do ano passado, que tivemos uma pista fortíssima no Suffolk na Expointer. Quem trabalha com carne de cordeiro precisa estar em Maringá. Também acredito que teremos muitas vendas na nacional, sabemos que não é o melhor cenário econômico, mas o Suffolk vem alheio a isso e teremos um comércio excelente no leilão, com uma ótima média.