O fenótipo que os animais apresentam nas exposições e pistas deve ser transformado em bons resultados nas propriedades rurais.
Em sua trajetória em nosso solo, o balanço da raça Suffolk é positivo. A raça tem muito crédito a seu favor, pois é considerada uma das mais funcionais e eficientes dentro da ovinocultura. Por isso, foi difundida em diferentes e vastas regiões do país, ao mesmo tempo em que possui uma história de sucesso nos países com tradição em ovinocultura, sobretudo naqueles que se especializaram na produção de carne. É um fato: o ovino Suffolk sempre aparece entre as principais escolhas dos criadores como raça terminadora.
Pudera, o Suffolk apresenta dois pontos fortíssimos. O primeiro, a excelente qualidade de carne para consumo desde os primórdios da raça. Há em seu sangue a linhagem Norfolk de ovelhas selvagens, apreciada pelos nobres da época por sua maciez e sabor. O segundo é sua alta velocidade de ganho de peso. A cruza com o Southdown é, em parte, responsável por isso.
O rebanho brasileiro da raça tem em seu currículo mais de oito décadas de convívio e adaptação com o ambiente tropical, já que os primeiros exemplares chegaram aqui em meados dos anos 1930. Durante meio século, os criadores desenvolveram um rebanho Suffolk de tamanho moderado na idade adulta, adaptado aos nossos sistemas de produção, ou seja, que se dá muito bem em pasto.
Melhor dizendo, criaram um tipo de ovino funcional, um animal compacto, com conformação adequada para a produção de carne desde os primeiros meses de vida, que não alcança peso exorbitante na idade adulta. Além disso, uma raça em que as matrizes não requeiram o uso intensivo de alimentos, pois isso torna a atividade economicamente insustentável.
Uma raça que ficou conhecida como “cara-preta”, criada extensivamente, sobretudo nas pastagens de braquiárias do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e oeste de São Paulo. Além dos rebanhos do sul do País, é encontrada em rebanhos do nordeste, principalmente Pernambuco e Ceará. Há seus descendentes na maioria das propriedades do sudeste.
Ou seja, essa presença em ambientes muito diferentes prova que ela teve capacidade de adaptação e sobrevivência, em pastagens com níveis nutricionais desequilibrados nas águas e na seca. Possui, ainda, a habilidade materna que permite a produção de cordeiros sadios.
Um exemplo de suas qualidades é o desempenho durante os Campeonatos Cordeiro Paulista realizados pela ASPACO desde 2002, que premiam a eficiência econômica de raças e seus cruzamentos em sistemas de produção intensivo em confinamento. Animais da raça Suffolk, ou cruzados com ela, venceram várias das onze edições, com recordes de ganho de peso. Nas únicas duas vezes em que houve o mesmo lote vencedor na etapa de ganho de peso e na de avaliação de carcaça, deu Suffolk.
Mas nem tudo é tão simples e positivo. Nos anos 90, como ocorre muitas vezes nas atividades humanas, houve a tal mudança em time que está ganhando… Empresários com grande poder financeiro, mas poucos afeitos à lida da ovinocultura iniciaram um processo de importação de genética Suffolk da América do Norte, encantados com os animais com maior peso, mais altos e longilíneos criados por lá.
Nos anos seguintes, as exposições e pistas de julgamento da raça começaram a enaltecer a indiscutível beleza dos ovinos agigantados em detrimento daqueles que já tinham tradição em nosso solo. O tom mudou, pelo menos nos ambientes de elite da raça. Não se pensava mais em mostrar nas pistas um animal adaptado ao nosso sistema de produção em pasto, em que predominam as pastagens de qualidade mediana, que exigem dos animais peso moderado e pernas fortes com aprumos corretos para enfrentar longas caminhadas para saciar a necessidade de alimento.
Para justificar a moda, propunha-se a alimentar as ovelhas Suffolk no cocho, num modelo altamente intensivo, mas excessivamente custoso ao bolso do produtor. Dessa forma, a raça sofreu com esse desvio de rota. Havia um Suffolk de pista. Havia outro Suffolk no pasto. Isso foi prejudicial. Os criadores enxergaram esse fato e pouco a pouco foram encontrando animais produtivos, adequados à eficiência produtiva e econômica.
A atividade precisa da sustentabilidade. Para alcançá-la, como acontece em vários países avançados na produção de carne de qualidade, o animal que é premiado na exposição (um evento útil, indispensável, de avaliação do estágio de desenvolvimento de vários criatórios e regiões, bem como de geração de negócios) é o mesmo que mostra alto desempenho reprodutivo, veloz ganho de peso e admirável conformação de carcaça.
O ovino Suffolk do Brasil tem que ser bom de pista e de pasto trazendo lucratividade ao produtor. E tem que continuar brindando nossa mesa com uma carne tenra, macia e saborosa!
Zoot. Gustavo Martins Ferreira – criador de ovinos, Diretor Técnico da ABCOS, Inspetor Técnico da ARCO (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos) e da ASPACO (Associação Paulista de Criadores de Ovinos), Consultor em Ovinocultura, Especialista em Produção de Ovinos pela Unesp-FMVZ/Botucatu-SP e Instrutor de Ovinocultura do SENAR-SP. Artigo publicado na Revista Cabra e Ovelha.
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parabens meus amigos,abraços